O abutre-preto
História e estado de conservação da espécie em Portugal e Espanha
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História e estado de conservação da espécie em Portugal e Espanha
Ao longo do século XX, a visão outrora comum de um abutre-preto a cruzar os céus tornou-se cada vez mais rara em toda a Europa, incluindo na Península Ibérica, devido a várias ameaças. Estas incluíam envenenamento ilegal, destruição de habitats e perseguição direta. No entanto, graças a anos de esforços de conservação dedicados, a população desta espécie majestosa está agora a recuperar. Mas ainda precisa da nossa ajuda para garantir o seu futuro.
História do abutre-preto em Portugal e Espanha
Em Portugal, a população reprodutora de abutres-pretos foi levada à extinção na década de 1970. Em Espanha, a situação também era alarmante, tendo restado apenas um mínimo de 206 casais em 1973. Desde então, a espécie começou a recuperar em Espanha, em parte devido à proteção jurídica eficaz, ao fim das campanhas de perseguição e envenenamento e à implementação de medidas de conservação específicas.
Estado atual de conservação do abutre-preto em Portugal e Espanha
Estatuto de conservação global
Quase ameaçada (população em declíneo)
Estatuto de conservação em Portugal
Em Perigo
Estatuto de conservação em Espanha
Vulnerável
A população de abutre-preto foi significativamente afetada por ameaças antropogénicas. Atualmente, a população europeia está dividida entre uma população ocidental na Península Ibérica e uma reintroduzida em França, e uma população oriental mais pequena na Grécia e na Bulgária – esta última reintroduzida com o projeto Vultures Back to LIFE.
Desde a década de 1980, a população de abutres-pretos tem vindo a recuperar de forma consistente em Espanha, com o número de casais reprodutores a aumentar de 250 na década de 1980 para cerca de 3000, atualmente. A monitorização anual mostra que a população reprodutora espanhola continuou a crescer em diversas áreas. Por exemplo, em 2020, registaram-se aumentos notáveis no número de casais reprodutores nas duas colónias reprodutoras mais importantes da Europa, localizadas na Extremadura. A Serra de San Pedro registou um aumento de 51% e o Parque Nacional de Monfragüe um aumento de 24% desde 2016. Este crescimento notável permitiu à Junta de Extremadura apoiar os projetos de reintrodução em França e na Bulgária, doando aves para a sua posterior libertação na natureza. Adicionalmente, após uma ausência de 50 anos, a espécie regressou à Sierra de la Demanda, perto de Burgos, com cerca de 20 casais reprodutores registados em 2022, na sequência de um projeto de reintrodução liderado pela GREFA.
O crescimento da população de abutres-pretos em Espanha e os esforços de conservação dirigidas às espécies necrófagas em Portugal permitiram que a espécie recolonizasse naturalmente Portugal, através de aves provenientes das colónias espanholas próximas. O primeiro casal formou-se em 2010 e, desde então, a população de abutres-pretos em Portugal tem continuado a aumentar. De alguns casais e uma colónia, a população reprodutora cresceu para 40 casais em quatro colónias em 2022. Embora o crescimento da população espanhola tenha sido a principal força motriz, os projetos em Portugal também foram fundamentais para beneficiar esta espécie necrófaga, particularmente o LIFE Rupis. para as espécies do Douro, e o LIFE Habitat Lince Abutre para o estabelecimento da colónia na Herdade da Contenda.
No entanto, o processo natural de recolonização é lento e limitado, uma vez que a espécie é colonial, altamente filopátrica e normalmente não recoloniza áreas distantes das colónias estabelecidas. As colónias de reprodução em Portugal ainda são frágeis devido ao pequeno número de casais, à área de reprodução muito restrita e à limitada conectividade entre colónias, o que as torna vulneráveis a eventos estocásticos como incêndios e envenenamento. Além disso, as aves das colónias de reprodução espanholas têm uma menor probabilidade de forragear em Portugal devido à escassez de recursos alimentares e de carcaças, o que retarda a dispersão para áreas portuguesas potencialmente favoráveis e a recolonização.
Portanto, para sustentar o crescimento contínuo das colónias de abutres-pretos em Portugal e garantir a sua viabilidade futura, é necessário implementar um projeto específico para complementar a dinâmica positiva proveniente da população espanhola.
Esperança para o futuro na recuperação da espécie
No curto prazo, o projeto pretende duplicar a população reprodutora em Portugal de 40 casais em 4 colónias para pelo menos 80 casais em pelo menos 5 locais. Ambicionamos aumentar a taxa de sucesso reprodutivo, atualmente de 0,38 em Portugal, para 0,5 ou mais. O aumento do número de casais e locais de reprodução irá melhorar a conectividade entre colónias, incluindo com Espanha, e assim promover uma população portuguesa mais sustentável.
O objetivo último do projeto é melhorar o estatuto de conservação do abutre-preto em Portugal, de Criticamente Em Perigo para Em Perigo até ao final do projeto (o que já aconteceu em 2023, com a revisão da Lista Vermelha das Aves Nidificantes em Portugal). No geral, os esforços continuados para proteger e conservar a espécie são cruciais para garantir a sua sobrevivência e para manter a saúde e o equilíbrio dos ecossistemas onde vive.