O abutre-preto

História e estado de conservação da espécie em Portugal e Espanha

História e estado de conservação da espécie em Portugal e Espanha

Ao longo do século XX, a visão outrora comum de um abutre-preto a cruzar os céus tornou-se cada vez mais rara em toda a Europa, incluindo na Península Ibérica, devido a várias ameaças. Estas incluíam envenenamento ilegal, destruição de habitats e perseguição direta. No entanto, graças a anos de esforços de conservação dedicados, a população desta espécie majestosa está agora a recuperar. Mas ainda precisa da nossa ajuda para garantir o seu futuro.

O abutre-preto (Aegypius monachus) já foi muito comum na Península Ibérica e noutras regiões europeias, com milhares de aves a voar pelos céus. No entanto, ao longo do século XX, a espécie tornou-se cada vez mais rara, devido à perda de habitat, à mortalidade por campanhas de envenenamento contra predadores e à perseguição direta. Além disso, a perturbação humana, especialmente durante a época de reprodução, dificultou o desenvolvimento da espécie em muitas partes da Europa, causando a sua extinção em diversas regiões.
First-Cinereous-Vulture-chick-born-in-Herdade-da-Contenda-in-2015-after-the-species-recolonized-Alentejo-exercising-its-wings.-©Pinto-Moreira-Herdade-da-Contenda
First-Cinereous-Vulture-chick-born-in-Herdade-da-Contenda-in-2015-after-the-species-recolonized-Alentejo-southern-Portugal-©-Pinto-Moreira-Herdade-da-Contenda

Em Portugal, a população reprodutora de abutres-pretos foi levada à extinção na década de 1970. Em Espanha, a situação também era alarmante, tendo restado apenas um mínimo de 206 casais em 1973. Desde então, a espécie começou a recuperar em Espanha, em parte devido à proteção jurídica eficaz, ao fim das campanhas de perseguição e envenenamento e à implementação de medidas de conservação específicas. 

Estatuto de conservação global

Quase ameaçada (população em declíneo)

Estatuto de conservação em Portugal

Em Perigo

Estatuto de conservação em Espanha

Vulnerável

A população de abutre-preto foi significativamente afetada por ameaças antropogénicas. Atualmente, a população europeia está dividida entre uma população ocidental na Península Ibérica e uma reintroduzida em França, e uma população oriental mais pequena na Grécia e na Bulgária – esta última reintroduzida com o projeto Vultures Back to LIFE. 

Desde a década de 1980, a população de abutres-pretos tem vindo a recuperar de forma consistente em Espanha, com o número de casais reprodutores a aumentar de 250 na década de 1980 para cerca de 3000, atualmente. A monitorização anual mostra que a população reprodutora espanhola continuou a crescer em diversas áreas. Por exemplo, em 2020, registaram-se aumentos notáveis no número de casais reprodutores nas duas colónias reprodutoras mais importantes da Europa, localizadas na Extremadura. A Serra de San Pedro registou um aumento de 51% e o Parque Nacional de Monfragüe um aumento de 24% desde 2016. Este crescimento notável permitiu à Junta de Extremadura apoiar os projetos de reintrodução em França e na Bulgária, doando aves para a sua posterior libertação na natureza. Adicionalmente, após uma ausência de 50 anos, a espécie regressou à Sierra de la Demanda, perto de Burgos, com cerca de 20 casais reprodutores registados em 2022, na sequência de um projeto de reintrodução liderado pela GREFA.

O crescimento da população de abutres-pretos em Espanha e os esforços de conservação dirigidas às espécies necrófagas em Portugal permitiram que a espécie recolonizasse naturalmente Portugal, através de aves provenientes das colónias espanholas próximas. O primeiro casal formou-se em 2010 e, desde então, a população de abutres-pretos em Portugal tem continuado a aumentar. De alguns casais e uma colónia, a população reprodutora cresceu para 40 casais em quatro colónias em 2022. Embora o crescimento da população espanhola tenha sido a principal força motriz, os projetos em Portugal também foram fundamentais para beneficiar esta espécie necrófaga, particularmente o LIFE Rupis. para as espécies do Douro, e o LIFE Habitat Lince Abutre para o estabelecimento da colónia na Herdade da Contenda.

Juvenile Cinereous Vulture in the nest © Carlos Pacheco

No entanto, o processo natural de recolonização é lento e limitado, uma vez que a espécie é colonial, altamente filopátrica e normalmente não recoloniza áreas distantes das colónias estabelecidas. As colónias de reprodução em Portugal ainda são frágeis devido ao pequeno número de casais, à área de reprodução muito restrita e à limitada conectividade entre colónias, o que as torna vulneráveis a eventos estocásticos como incêndios e envenenamento. Além disso, as aves das colónias de reprodução espanholas têm uma menor probabilidade de forragear em Portugal devido à escassez de recursos alimentares e de carcaças, o que retarda a dispersão para áreas portuguesas potencialmente favoráveis e a recolonização.

Portanto, para sustentar o crescimento contínuo das colónias de abutres-pretos em Portugal e garantir a sua viabilidade futura, é necessário implementar um projeto específico para complementar a dinâmica positiva proveniente da população espanhola.

Descubra os passos concretos que o projeto irá dar para promover o crescimento populacional do abutre-preto em Portugal.

Ações do projeto

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