O abutre-preto
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Principais ameaças
Principais ameaças Outrora comum na Península Ibérica, o abutre-preto tornou-se cada vez mais raro ao longo do século XX, devido à perda de habitat, à mortalidade devido a campanhas generalizadas de envenenamento contra predadores e à perseguição direta, entre outras ameaças. Como resultado, a população reprodutora de Portugal extinguiu-se na década de 1970, e apenas 206 casais permaneciam em Espanha em 1973. Graças aos esforços de conservação em ambos os países, a população em Espanha recuperou, o que levou à recolonização natural da espécie em Portugal. No entanto, o abutre-preto ainda enfrenta sérias ameaças que podem pôr em perigo a sua sobrevivência no futuro.
Ameaça nº 1
Envenenamento e perseguição direta
O envenenamento ilegal foi identificado como a maior ameaça para os abutres pelo Plano de Ação Multiespécies para a Conservação dos Abutres da África-Eurásia (Vulture MsAP). De facto, um único incidente de envenenamento pode resultar na morte de vários abutres, chegando mesmo a destruir colónias inteiras.
Para abordar este problema, o projeto LIFE Aegypius Return visa reduzir a mortalidade dos abutres devido ao envenenamento, melhorando a implementação do Programa Antídoto Portugal e desenvolvendo a capacidade local para lidar e acompanhar casos de envenenamento e outros incidentes envolvendo espécies-alvo. Serão também criadas duas novas unidades caninas de deteção de venenos no SEPNA/GNR, localizadas numa área essencial para pelo menos três das colónias de reprodução portuguesas.
Envenenamento por chumbo
A utilização de munições com chumbo na caça emergiu como uma grave ameaça aos abutres e às aves de rapina na Europa. Estas aves necrófagas alimentam-se frequentemente da carne de espécimes cinegéticos abatidos que não são recuperados pelos caçadores ou das miudezas (órgãos internos) que os caçadores deixam no solo. Quando a munição com chumbo atinge os animais-alvo, forma-se um grande número de fragmentos de chumbo, que se espalham pelos vários tecidos da presa, facilitando, depois, a ingestão de chumbo pelas aves necrófagas.
Num estudo com 252 aves (águias-reais, quebraossos, grifos e abutres-pretos) recolhidas numa grande área do centro-sul da Europa, 44% (111 indivíduos) apresentaram valores crónicos de chumbo superiores ao normal e 26% (66 indivíduos) apresentaram níveis de intoxicação clínica. Esta elevada prevalência de envenenamento por chumbo é muito danosa para as populações de aves de rapina, que são frequentemente raras e dispersas e estão sujeitas a programas de conservação financiados pela UE e pelos seus Estados-Membros. Para mitigar este problema, o LIFE Aegypius Return pretende reduzir o risco de intoxicação por chumbo, incentivando a transição para munições sem chumbo em 14 zonas de caça (28.380 ha) na área de distribuição do abutre-preto em Portugal, abrangendo um total de 300 caçadores.
Medicamentos veterinários
Os abutres enfrentam séria uma ameaça devido aos medicamentos veterinários, especialmente aos anti-inflamatórios não esteroides, como o diclofenac, que causaram a morte de muitos abutres e estão ainda disponíveis legalmente em Espanha. Além disso, outros medicamentos, como cetoprofeno, aceclofenaco, flunixina e nimesulida, comummente usadas na pecuária, também representam uma ameaça para os abutres. Nas áreas do projeto LIFE Aegypius Return, os abutres-pretos e outras espécies de abutres correm o risco de exposição a estes medicamentos, uma vez que são utilizados em gado em regime extensivo, e os animais de estimação tratados com medicamentos humanos sem supervisão veterinária também podem expor indiretamente os abutres a estas substâncias.
Degradação do habitat e aumento dos incêndios
Com apenas quatro colónias de abutres-pretos em Portugal, um único incêndio florestal destrutivo poderia dizimar uma parte significativa da população reprodutora portuguesa. Em 2017, a colónia de reprodução no Douro já sofreu um revés, quando o então único ninho foi destruído por um incêndio, matando a cria que já havia eclodido. Gerir o habitat para prevenir incêndios, aumentando a segurança das colónias e a resiliência das florestas, é essencial para permitir a recuperação sustentável da população de abutre-preto em toda a sua antiga área de reprodução.
Perturbação humana durante a época de reprodução
A falta de integração de medidas de proteção da espécie e do seu habitat de reprodução nos Instrumentos de Gestão Territorial, que abrangem uma vasta gama de temas e escalas espaciais, agrava o problema. Existe ainda um conflito entre alguns subsídios da Política Agrícola Comum (PAC) e os esforços de conservação dos abutres. Por exemplo, os subsídios que exigem a limpeza de vegetação arbustiva ou intervenções florestais podem causar perturbações nos habitats de reprodução. Para resolver este problema, é necessário implementar medidas a nível local, regional e nacional para minimizar os impactos de todas as atividades, incluindo ações de conservação. O projeto LIFE Aegypius Return identificará atividades que possam causar perturbações em colónias de reprodução existentes ou potenciais, analisará potenciais conflitos com as regras de subsídios da PAC e definirá orientações e alternativas para cada setor e atividade a diferentes níveis. As partes interessadas e os agentes relevantes serão envolvidos e informados para garantir a proteção eficaz dos habitats de reprodução de abutres.
Disponibilidade limitada de alimentos
O declínio da agricultura extensiva e a legislação rigorosa em matéria de eliminação de carcaças resultaram numa redução da disponibilidade de alimento para os abutres, nos últimos anos. Em 2001, a UE proibiu o abandono de carcaças de animais no campo, em resposta à crise da Encefalopatia Espongiforme Bovina, ou doença das vacas loucas. Estas políticas tiveram um grande impacto nas aves necrófagas, incluindo os abutres.
No entanto, em Espanha, a legislação agora permite que as carcaças de animais de gado permaneçam nos campos, para consumo dos abutres, enquanto em Portugal têm de ser recolhidas por um sistema próprio. Devido a esta diferença de políticas sanitárias, os abutres-pretos e os grifos raramente atravessam a fronteira com Portugal para se alimentarem, existindo uma certa uma barreira ecológica.
Para fazer face a esta ameaça, o LIFE Aegypius Return irá, numa primeira fase, estimar os recursos tróficos necessários para a comunidade de necrófagos na área do projeto, para, posteriormente, definir uma estratégia de alimentação a ser implementada para o abutre-pretoA equipa do projeto irá ainda melhorar a disponibilidade de alimento em Portugal e nas zonas fronteiriças através do reforço da rede de campos de alimentação de abutres existentes e novos, mas principalmente através do estabelecimento de 66 áreas de alimentação não vedadas
Conflitos emergentes entre humanos e vida selvagem
Existe um desconhecimento sobre o conflito entre abutres e criadores de gado em Portugal, sendo urgente identificar a sua real dimensão para se conseguir uma adequada coexistência entre humanos e animais selvagens. O conflito precisa de ser avaliado e resolvido rapidamente para evitar abates retaliatórios de animais selvagens. O projeto visa caracterizar o conflito e as suas causas na zona fronteiriça entre Portugal e Espanha, analisando informações históricas de criadores de gado e o enquadramento mediático dos abutres, bem como dos incidentes de abutres com o gado. Isto ajudará a definir medidas de conservação adaptadas, estratégias de atenuação e de sensibilização específicas para prevenir e atenuar o conflito em toda a área do projeto.
Eletrocussão em linhas elétricas
Para endereçar esta questão, o projeto fornecerá dados sobre os movimentos e a mortalidade de, pelo menos, 60 abutres-pretos marcados com emissores GPS aos projetos existentes que estão focados em atenuar o risco de eletrocussão e a mortalidade. Esta informação será utilizada para mitigar o risco de eletrocussão, identificando postes de eletricidade perigosos e tomando medidas relevantes, como a colocação de sinalizadores para as aves e o isolamento dos postes.